segunda-feira, 23 de julho de 2012

Escrevi em algum lugar


O que era mesmo que sentia?
Devo ter anotado
Em algum lugar

De quem era mesmo que eu gostava?
Não me lembro
Devo ter escrito em alguma árvore

Quem mesmo eu era?
Talvez me lembre ainda
Devo estar escrito em algum lugar

Anotei,
Em algum corpo que toquei
Num copo de onde bebi

Eu devo ter escrito
Em algum lugar...

sábado, 21 de julho de 2012

Efeito das letras


Mover-me portas a dentro
A convite de um poema
Encorajar-me nos pensamentos
Aceitar a falta de um tema
Tremores impedem ação
Temores repelem reação

Abra-se dicionário
Desmanchem-se rimas

Açoito uma folha ao ponto de marcá-la
Tão profundamente quanto o tamanho da revolta

Circundo-me louco
Como um cão danado
A correr, dando voltas
Em torno do próprio rabo

Fechem-se livros
Que não lerei mais nada
Quebrem-se penas
Que não escreverei palavras

Cuspirei letras sobre superfícies brancas
Explodirei minha alma
Para que se derrame em chamas
E arda as mãos de quem queira alterar-me
Seja eu, uma oração
Sequer uma vírgula

Meto-me portas afora
Monto o cavalo de Álvaro
Que me conduz freneticamente
Ao lugar em que desejo estar
Onde certamente não sou um universo pensante
Mas vivo em carne osso
No efeito das letras

Ipês



O florescer dos ipês revela
A esperança de que o feio
Um dia se torne o belo

Traduz a fé em um calor
Que existe mesmo num frio
Doloroso, melancólico e triste

Um céu repleto da nitidez azul
Que poucos percebem
Concentrados no desconforto

Sinto necessidade do frio
Da dor nos ossos
Do queimar da pele
Do pingar do nariz
Do anseio da primavera

E que prazer teria eu
Se não me fizesse triste
Para admirar a alegria
De galhos secos e coloridos
Dos tais ipês todos floridos