Se fossem poéticas
Apenas ilustrariam
Um ridículo menestrel
Tal amante sem mel
Um beijo maldado,
Fel!
Doce lua,
A míngua no céu
Crua rua,
Cambaleante, andante
'the piper at the gates of dawn' *
Ilustre poeta de reversos
Desavisado de que suas letras
Não passam de desenhos opacos
De sentimentos fracos
Vindos de frascos deixados
Ilustres, ele ébrio,
E os desejos vazios...
"(...)
And the punchlines point at you
And all the comebacks in the world are in your head
And you can't say them until everybody leaves
And it's just you and your imaginary friends
Your imaginary friends
Your imaginary friends
(...)"
Dresden Dolls em The Kill
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
sábado, 5 de novembro de 2011
A morte de Beatriz
Sou irmão gêmeo de Beatriz. Não somos idênticos, obviamente pela
diferença do sexo, mas no mais somos, ou fomos quase idênticos.
Fisicamente muito parecidos, cor de pele, cabelo e uma diferença que
mais me incomodou durante a vida toda: a cor dos olhos. Ela tinha
dois olhos maravilhosos, expressivos e arrasadores. Arrasadores em
qualquer sentido, tanto no olhar quanto na simplicidade da cor.
Ímpar. Jamais vi ou verei cor de olhos como a dos dela. Se não a
amasse diria que a invejava por isso, mas nunca tive este sentimento
em relação a ela.
Há alguns anos não nos falávamos. Uma desavença devido a maneira
de pensar em relação às coisas simples da vida, uma questão de
orgulho e soberba de ambas as partes nos afastou e manteve longe, até
que hoje pelo início da tarde recebi a notícia de que estava morta.
Um cara, que nem sei quem é, simplesmente a matou. Réu confesso.
Ao que parece foi uma coisa passional, uma pessoa desequilibrada.
Talvez tornado assim pela profunda beleza de Beatriz e seus olhos, a
cor alva de sua pele, seus pingos de melanina, a cor acobreada e os
cachos de seus cabelos, e muitos encantos que de tão intensos podem
perturbar qualquer juízo masculino. Nem sei eu o que faria se não
fosse irmão. Talvez impossível ver uma beleza como a dela. Sem
desmerecer qualquer mulher, mas a beleza de Beatriz não era de
passarela ou capa de revista, seus traços do rosto nem muito
alinhados ou dentro de padrões do belo tradicional da
contemporaneidade. Impossível não achá-la linda depois de
conhecê-la de perto.
Nem bem sei se sofro pela sua ausência ou se por mim mesmo, que não
tive tempo de me redimir perante meus erros, os que nos afastaram.
Ambos tivemos sua parcela de responsabilidade, mas de um de nós
sempre partira a iniciativa do pedido de perdão, da admissão da tal
culpa. Detesto esta palavra : culpa! Minha infância foi dominada e
regida por esta maldita palavra. Somente lá pelo final da
adolescência fui reconceituar o significado do sentimento que
colocam o nome de culpa. Resolvi mudar o nome para
'responsabilidade'. Não foi por mágica, mas responsabilidade não
me causa sentimento ruim e culpa sim, causava-me!
Até esse maluco que tirou a vida da Beatriz, eu não o culpo de nada
mas tenho plena consciência da decisão dele, matar Beatriz, e de
fato matou, e de fato é responsável por isso. Basta olhar nos olhos
dele, não se vê culpa nenhuma, pensa com seus botões que fez o que
deveria fazer e sabe que foi responsável por isso, contanto que se
confessou prontamente.
A primeira coisa que me veio a cabeça foi suicídio. Nada feito,
minha vida está muito boa no momento, livre de crises existenciais,
família tudo em ordem, trabalho de vento em popa. Senti um profundo
desejo de matar o sujeito. No afã da confusão mental durante o
recebimento da notícia de sua morte, lembrei-me apenas do
ressentimento guardado devido a nossa desavença, de que se alguém
tivesse direito de tirar a vida de Beatriz seria eu, apenas eu, mas
recobrado o juízo e um pouco mais calmo abrandou-se a ira e aos
poucos tomei consciência do que realmente havia acontecido. Daí
então me veio a tal ideia do suicídio. Durou pouco com um simples
exame de consciência.
Mas olhando os fatos : Bia está morta e eu devo tomar as
providências para a cerimônia. Papai e mamãe já se foram, graças
a Deus. Acho que não suportariam viver essa situação. Mas até
chegar ao lugar para onde me dirijo preciso matá-la dentro de mim,
pois quem não suportaria vê-la morta realmente, sou eu. E é fato
que daqui a instantes a verei.
Então me pergunto como faço isso. Creio que somente gêmeos
entendem do que falo ou talvez não, mas é fato de que durante este
caminho irei cometer um suicídio pela metade, terei que matar dentro
de mim uma pessoa que durante muito tempo foi uma extensão do que
sou. Olhar Bia de frente era como me olhar e me ver sendo mulher, com
exceção dos olhos, os meus e os dela claros, mas de cores
diferentes. Um espelho para o qual, creio, somente eu tive o
privilégio de olhar.
Pois é amada irmã, mataram você e eu pensei em tirar minha vida.
Mas parte dela me foi tirada pelo lado de fora, cabe a mim tirá-la
por dentro, sendo assim Bia, te suicido dentro de mim.
Adeus!
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Senha
Abram-se todas as portas
Com palavras retas
E poemas tortos
E ouvidos bestas
Abram-se todas janelas
Que as feias
De calcinhas e meias,
Calçolas e camisolas
Querem dançar
Fechem todas as bocas
Que a poesia quer
Que a prosa cale
Façam da língua faca
Afiada no pescoço,
Da moça, do moço
Língua escrita
Vontade bonita
Calem-se todos e não digam
Senha nenhuma!
Sua senha para me ouvir
Sou eu quem fala:
--Cala a boca!
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