sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Asas

imagem do filme Der Himmel über Berlin - 1987 (Asas do desejo) de Win Wenders

Asas(Original em Português por Guilherme Coutinho)
Tenho-nas,
Não me permitem o voo
Como pássaro

Duas delas que não me libertam
Da razão, da exaustão de voar parado

Duas delas que uso mantendo-me preso
Num voo sem vento, sem encanto

Sobrevoo rasteiro
Meus delírios, pensamentos
E insanidades...

Asas, minhas asas
Que me servem de carrascos
De algozes, que me condenam
A aspiração do infinito intangível.

Wings (versão de Guilherme Coutinho)

I have them both
And do not allow me the flight
as a bird
Two of them, do not set me
Free
From the reason or exhaustion
Still fly where I stand

I use both
Keeping me trapped
In a windless flight, no charm

Overflight creeping
My delusions, thoughts
And insanity...

Wings, my wings
That serve me as executioners
Or torturers, that condemn me
To the aspiration of the infinite intangible


Wings
(Versão de Dani Maiolo)

I have them
But those, don’t allow me the flight
Like birds

My wings don’t free me
From reason, from exhaustion
From a stopped flying

The two wings I have
Keep me tied
In a fly without wind, without grace

Creeping overflight
My delusions, thoughts
And insanities…

Wings, my wings
Those, that just serve me as tormentors
From tortures, that condemned me
The suction of unachievable infinite


Thanks Dani Maiolo :-)
Inspirado nuns versos de "D. Feathers" de Bettie Serveert


"...
Now the wings have clipped the bird instead
and claimed its head.
..."


D Feathers (Bettie Serveert)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ophelia, a orquídea de Antonia

         Nunca escrevi um texto a pedido de alguém, sempre há uma primeira vez!


Coitada das duas, da Antonia e da Ophelia, a Antonia que pensa que é a dona da Ophelia e da Ophelia que vive presa num vaso dentro de um apartamento, nunca experimentou a liberdade de estar na natureza, é cria de cativeiro... Na floricultura pelo menos tinha a companhia das outras orquideas sem donos e sem nomes. Coitado mesmo sou eu, que nunca leu Sheakspear e nem sabe da história da Ophelia, e mais coitado ainda se Caeiro me visse falar isso de uma planta. Meu Deus! Falar que uma planta é uma coitada. Eu não sei nada a respeito da morte dele, mas se foi enterrado está se revirando no túmulo! Coitado do Caeiro se pudesse ler esta bobagem que escrevo...
Eu estou aqui, olhando para uma foto da Ophelia florida, tentando imaginar o que ela sente ou pensa. Ela não sente ou pensa é nada. Ela é que é feliz! Não tem cérebro, essa porcaria que só me enche a cabeça...
É...
Viva a Ophelia que não tem cérebro, que não sabe que exite mas existe, que não sabe que é orquídea e sabe florir, que não fala e nem escreve. Se é feliz? Provavelmente não, plantas não lêem e nem escrevem dicionários pra definir, não criam conceitos de nada, só fazem o que interessa : existir. Mas se sentisse alguma coisa com certeza seria felicidade, por deixar a Antonia de bem, feliz por cuidar de uma planta pela primeira vez na vida e eu feliz em descobrir que sou um idiota tentando fazer de conta que é uma planta pra sentir e escrever como uma delas...
É Ophelia, você sabe florir, alegrar, perfumar... e eu... só te olhar numa foto porque a Antonia pediu uma historinha...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Gotejante

Escrito após ler o conto . . .

CONTA-GOTAS de Mariela Mei
Como se fosse um balde
De baixo de um lustre velho
Por onde faz escorrer lentamente
Umas gotas, poucas amiúde,

D'água suja de ferro
Escorre, pinga
De tempo corre

Gotejam meu pensamento
E o sentimento
Na superfície de lâmina líquida
Extravaza seu conteúdo

Tempo,
Gota,
Persiste na desordem
Dessa coisa estranha e linda
Dessa conta que não finda
Tamanha
Tamanha gota
Que conta dor
Da gota, última que falta

E vai cair!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Apenas uma sombra na lembrança

Escrito após ler o conto . . .

Crônica do interminável anseio de Mariela Mei
Mordo faminto uma sombra
Da sua lembrança,
Mastigo a penumbra de sua partida
E engulo seco a sua ausência.

E sinto ânsia
Não sei se de ver você novamente,
Ou de nó que fecha esse embrulho
No estômago,
Na garganta.

Saudade de ver impressa no chão
A sua delicadeza, sob a porta
De baixo da arandela
Eu sempre a espera
Sabia quando era você,
Mesmo antes que entrasse...

Não pelo som ou cheiro e sim
Na silhueta desenhada no chão.