sentar-me à soleira da porta e pensar apenas,
sou o resto de um mau sonho da noite
escrever sobre isso e sentir-me um palhaço.
bem como o pequeno Milton disse:
"poetas e pintores são bufões que projetam
sombras sobre a água."
num silêncio terno e perturbador ao mesmo tempo
rodeado das lamentações e dores que me fizeram amadurecer
repousa minha resignação, ou pelo menos um arremedo
de aceitação daquilo que fui.
as folhas que caem e apodrecerão
que irão se tornam inúteis à árvore, porém úteis ao solo
forram também a superfície desta água mansa
onde projetam-se as sombras e perduram as mazelas.
de tempos em tempos a água seca
as gotas mínguam ou pingam lentas a miúde
as sombras se travestem em penumbras
o triste bufão se despe de si e da falsa alegria
nu, ao lado de um curso d'água estio que finda num lago seco
que por fim dá esteio ao fim sem nenhum meio
sombras, mazelas, dores, folhas...
enfim as flores!
as coroas e o punhado de terra.
o solo
a falta de sol
enfim só
e de sólido só o resto, do pó ao pó...
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