...escrito talvez numa tarde de maio em 2011
Talvez deva mesmo
Abrir uma boa quitanda
Dedicar meu precioso tempo
Em algo útil, vender comida, fruta.
Lindas mangas, brilhantes de cor intensa
Subjugo meus sentimentos a outro
Que deveras não irá senti-los
Minhas doces mangas
Ah estas sim, sentirão de fato o sabor.
Entrego-me despido
Sem pudores moralistas
Pensando ser altruísta
Que alguém se identifique
E o que vivi lhe sirva de ajuda
Ledo engano
Vou é vender fruta
Mesmo.
‘Bom dia senhora’
‘Obrigado pela preferência’
‘Tchau, até amanhã’
Quanta gentileza!
Apodreçam meus versos
Todos na gaveta
Amadureçam os frutos
Todos na prateleira
Um livro meu?
Só se for do fluxo de caixa
Da minha nova empreitada.
Minha prosa e poesia serão encaixotadas
Junto das berinjelas velhas
Chicórias murchas
Tomates podres
E depois jogados
À terra virgem
Para servirem de adubo
A algo que cresça
E sirva para alguma coisa
Minha quitanda vai chamar-se:
Livraria.
E vai ter livro com casca
E fruta com capa
E versos de cebola
E cachos de letras
E abobrinha do tipo prosa
E poesia do tipo goiaba
E verde...
Só Cesário.
E eu...
Vou ser empresário.
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Parece que ao fim da vida, Eça de Queirós disse que teria sido mais útil a sociedade se tivesse aberto uma Quitanda.
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