Esta noite
deparei-me novamente
Com a
fronteira, com o abismo.
O lugar onde perambulam fadas
E garotas pálidas de aparência fantasmagórica.
Não havia
maritacas barulhentas,
Aquelas
que nunca se calam..
Mas uma
ave dita de mau agouro assentou-se próximo
E em
silêncio me olhou como se fizesse um convite
'Um
sobrevoo por sobre o abismo?'
Seus olhos
proferiam palavras mudas,
Ecoavam em
meu interior.
Um
sentimento de negação,
Do saber
que não deveria, conteve-me
Num
instante se formou nítida a imagem
A ave
negra finalmente me encarou e disse :
'A ti não
houve Lenora
E hoje
aprecias a aurora
Levanta-te
logo cedo
Em preces
que te abafam o medo
Não te
houve Lenora
Porém
sentiste e choraste a partida
Buscando
inutilmente a calma
Tentaste a
cura lambendo a própria ferida
Mas a
saliva não lava a alma
Não te
estendo as mãos porque não tenho
Não te
ofereço uma asa pois ambas me são necessárias
Aproxima-te
então e pula comigo
Abandona
tudo e encara o abismo
Mas
te lembres que não tens asas
E que não
voltarás para casa
E tampouco
verás aquela que para ti
Foi como
Lenora
Não terás
mais a dor da lembrança
O
sentimento de vazio da desesperança
Conceda-me
esta última dança
Mas
lembra-te: logo após, nada mais, nunca mais.'
E a ave prostrou-se diante do abismo
Virou-se
para trás e fitou-me brevemente
Sem
insistir, emudeceu e alçou voo sozinha
Virei-me
para os lados
Percebi
que não mais havia ali
Fadas ou
garotas pálidas
Quando me
voltei para ver o corvo
Não havia
ali nem corvo ou abismo
Apenas um
horizonte árido e um fio d'água
Acompanhados
de um gralhar constante em meus ouvidos:
'Nunca
mais!
Nunca
mais!'
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